Entardeceres amazônicos

Tenho sonhado com entardeceres amazônicos. Tenho visto de novo as imagens do céu enorme da Amazônia; das cores do pôr-do-sol — amarelos, laranjas, roxos, lilás, vermelhos; das reflexões da luz oblíqua nas águas dos grandes rios arteriais — o Madeira, o Negro, o Amazonas –, dos pequenos rios cheios de vida — o Abunã, o Acre –, e dos igarapés e igapós; da mudança nos matizes verdes da floresta enquanto o sol cai no horizonte.

Lagoa em Rondônia
Pôr-do-sol no Rio Madeira em Porto Velho

De onde vieram esses sonhos? Por que surgiram do inconsciente essas lembranças das minhas viagens pela Amazônia brasileira e boliviana? Não sei dizer ainda.

Apenas lembro do poema “De que são feitos os dias?” de Cecília Meireles, enquanto as imagens daqueles entardeceres amenizam os meus dias.

De que são feitos os dias?
– De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.

Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inactuais esperanças.

De loucuras, de crimes,
de pecados, de glórias
– do medo que encadeia
todas essas mudanças.

Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças…

Cecília Meireles, Cancões

Lembro do poema da Cecília. Mas a minha visão de vida é diferente. Vivemos, sim, dentro de todos esses momentos. Às vezes choramos. Mas também rimos.

E os desenlaces duros oferecem possibilidades de novos começos. Um entardecer é um desenlace. Mas a noite amazônica é gostosa, cheia de sons e cheiros, iluminada por estrelas. E sempre virá um novo amanhecer.

Rio Abunã, fronteira Brasil – Bolivia
Barco no Madeira
Céu de Rondônia

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